Setenta e Três Cientistas Premiados por Publicar Mais de 100 Artigos


Por TERESA FIRMINO
Sexta-feira, 26 de Novembro de 2004

À vez, o nome de 73 cientistas ia sendo dito em voz alta. António Coutinho. Manuel Sobrinho Simões. Sebastião Formosinho Simões. Maria de Sousa. Carmo Fonseca. António Xavier, e por aí fora. À vez, dirigiam-se ontem à mesa onde estava a ministra da Ciência, Graça Carvalho, e o presidente da Fundação para Ciência e a Tecnologia (FCT), Ramôa Ribeiro, e assinavam o contrato que lhes dá direito a um prémio por terem publicado 100 artigos científicos, que tiveram mais de 500 citações, ou publicado 50 artigos, com 250 citações, e orientado dez doutoramentos.

Nem todos estavam presentes, mas naquela sala do Ministério da Ciência mal sobrava espaço para acomodar mais gente. Cinco mil euros, por dois anos, com possibilidade de renovação por mais dois, é o valor do Prémio Estímulo à Excelência, anunciado pelo ministério em Abril. O dinheiro, pago pela FCT, será para actividades de investigação e divulgação científica.

Muita polémica surgiu na altura: criticou-se o facto de o prémio não poder aplicar-se a todas as áreas. Nas ciências sociais e humanas e na matemática, os cientistas não publicam tantos artigos. O ministério aceitou essas críticas, e por isso os 73 premiados são todos das ciências de engenharia, química, física, ciências biológicas, biotecnologia e ciências da saúde.

As ciências sociais e humanas e a matemática ficam para uma próxima vez, referiu Ramôa Ribeiro. Os conselhos científicos da FCT vão estabelecer os critérios nestas áreas, para que os cientistas portugueses, ou estrangeiros a viver em Portugal, possam candidatar-se ao prémio. "Quem publica dois ou três artigos por ano é um excelente matemático", reconhecia Ramôa Ribeiro. "Em breve, vamos apresentar a fasquia para a sociologia ou história. Mesmo nas ciências sociais e humanas será obrigatório publicar em revistas internacionais."

Num tom mais ligeiro, Ramôa Ribeiro não deixou em claro uma resposta às críticas. "Diziam que os jovens não iam ser contemplados. Não é verdade. Há aqui jovens - todos somos jovens..." Com os risos que surgiram, o ambiente continuou descontraído. "Tenho recebido muitos telefonemas: 'Ó professor já estou quase a lá chegar.' Isto é motivador."

Depois, o presidente da FCT referiu alguns casos curiosos entre os distinguidos. Há 16 mulheres e 57 homens. Há quatro casais, de que são exemplo Isabel Moura e José João Moura, ambos da Universidade Nova de Lisboa. "Quando falei com a professora Isabel Moura estava a pensar fazer um pequeno desconto. Há despesas partilhadas..." A assistência riu-se de novo. Os risos repetiram-se quando Ramôa Ribeiro apelou aos presidentes das instituições premiadas: "Disponibilizem esse dinheiro de forma rápida."

O patologista Sobrinho Simões era um dos cientistas na cerimónia, ao mesmo tempo na qualidade de director do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup). Dizia: "Estou contente em termos institucionais, porque cinco pessoas do Ipatimup tiveram o prémio. Mas receio que este tipo de estímulos não resolva o problema mais importante em Portugal, que é o da consolidação das instituições."

Não muito longe, a imunologista Maria de Sousa, do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, da Universidade do Porto, dizia que faltavam ali alguns cientistas que não se candidataram. "O importante são os que estão a fazer qualquer coisa e ainda não têm 100 artigos. É o sentido de continuidade", sublinhou Maria de Sousa, que já antes, na altura da polémica, também considerava como aspecto positivo deste prémio a possibilidade de ficar-se a conhecer o trabalho dos cientistas mais velhos.

A ministra quis falar do que significa ter tantos artigos, em revistas internacionais referenciadas no Instituto para a Informação Científica, nos EUA. "Publicar 100 artigos ou perto disso é uma vida dedicada à ciência e ao serviço público, no que isso tem de mais nobre, que é o desenvolvimento científico. Este prémio tem um valor extremamente pequeno, é mesmo só pelo valor simbólico. É minha intenção aumentar este valor", frisou. "É nosso objectivo dar tranquilidade aos cientistas, para que possam continuar a fazer investigação. Para isso, é preciso ir para valores superiores, à volta de 40 mil euros por ano. Iremos fazer tudo para chegar a uma situação perto disso, num futuro próximo", prometeu a ministra, para quem este prémio também pode ajudar a revelar ao grande público muitos destes cientistas. Topo de Página